sexta-feira, 17 de junho de 2011

VOCÊ SABE JOGAR SUDOKU?



Você sabe jogar Sudoku?

Meu nome é Fabiano e eu sou viciado!

Eu sempre vi revistas e mais revistas de Sudoku nas bancas sem prestar muita atenção. Vez ou outra tinha uma página com quatro jogos clássicos nível fácil no meio das minhas palavras-cruzadas, mas nunca dei bola direito. Até experimentei um ou outro, mas desisti diante das primeiras dificuldades.

Um dia, há cerca de um ano e meio, a empresa em que eu trabalho me disponibilizou um celular. Comecei a fuxicar e notei que o modelo básico Sansung tinha somente um jogo sem possibilidade de instalação de outros: o fatídico Sudoku! Aí não tinha jeito. Fila de banco, a muié entra na farmácia e diz que volta já, meia hora sem fazer nada não é pra mim. Aprendi!

Aprendi que existe uma diferença crucial entre “saber como se joga” e “saber jogar”. Qualquer um que já se arriscou no xadrez sabe disso. A gente aprende a mexer as pedras, o cavalo anda em “L” e tal, mas quando a gente leva o primeiro cheque pastor fica pensando que alguma coisa está faltando. Jogar Sudoku tem dessas. A gente lê as regras e acha que vai ser moleza e depois de colocar uns três números... VÁPRÁPiiii QUEM DISSE QUE ESSA Piiiii ACALMA! - Notaram como estou mais comportado?

Fig. 1
Bom minha intenção com este post é demonstrar como de fato o jogo é simples, e genial em sua simplicidade. Quero ensinar o leitor a como jogar Sudoku, as regras básicas, e como se joga Sudoku, estratégias simples que deixam a leitura do jogo acessível.

Abstive-me de transcrever explicações de outras publicações pra usar uma linguagem minha. O exemplo que uso (Fig. 1) foi publicado na pg. 15, COQUETEL - SUDOKU - LIVRO 01 - EDIOURO, JOGO 32 - Clássico Fácil.

Como se Joga Sudoku

Como eu escrevi, em quaisquer palavras-cruzadas se conseguem estas regras.

Fig. 2
O jogo consiste de uma malha de NOVE LINHAS e NOVE COLUNAS, esta malha é subdividida em outra de TRÊS POR TRÊS, contabilizando NOVE CONJUNTOS. O resultado é uma malha de NOVE POR NOVE com OITENTA E UM QUADROS preenchidos ou a preencher com números (Fig. 2).

Podemos resumir as regras assim:

“Cada Base (linha, coluna ou conjunto) deve ser preenchida com números diferentes de '1' a '9'.”

Pronto! Agora você sabe como se joga. Então, como podemos traduzir isso de modo prático?

Como Jogar Sudoku

Longe de querer reinventar a roda, quero somente apresentar uma ótica pessoal da solução do jogo. Nunca li nada a respeito e o que eu estou apresentando aqui não deve ser nenhum segredo neste jogo difundido mundialmente. Não duvido que outros já tenham apresentado soluções semelhantes.

Resumi em quatro técnicas que percebi usar regularmente com a prática do Sudoku Clássico Fácil. Não achei nenhum jogo com esta descrição que não resolvesse com estas técnicas e, até agora nenhum Clássico Médio também.

TÉCNICAS

01. Cruzamento

Fig. 3
Comece escolhendo um número. Por questão organizacional, geralmente começo pelo número “1”, depois o “2”, o “3” e assim por diante até o “9”, depois recomeço pelo “1”). Ao número “1”, então! Os quadros previamente preenchidos aparecem verdes.

Podemos ver que há um número “1” no primeiro conjunto, no alto à esquerda. Se somente podemos ter um de cada número de “1” a “9” em cada base, neste conjunto já tem o número “1”, bem como nesta linha e nesta coluna (Fig. 3) que ressalto em vermelho, para indicar que nestes quadros não poderemos preencher com o número em análise.

Fig. 4
No conjunto seguinte também há um número “1”, obviamente em uma linha e uma coluna diferente do número “1” do conjunto anterior. Na figura seguinte (Fig. 4) realcei somente as linhas dos números “1” dos primeiros conjuntos. Veja que no terceiro conjunto eliminamos as possibilidades para preenchimento do número “1” somente para dois quadros.

Fig. 5
Neste momento podemos cruzar as informações. Na figura seguinte (Fig. 5) realcei também a coluna do número “1” do terceiro conjunto inferior à direita. Deste modo eliminamos um dos dois quadros restantes, e aí podemos escrever o número “1” no último quadro do conjunto, que aparece em amarelo, demonstrando que ele está em preenchimento.

Fig. 6
A maior dificuldade desta técnica é realçar estas linhas e colunas sem escrever nada no papel. Um Sudoku digital às vezes faz isso por você, mas no papel, ao fim de alguns preenchimentos a malha estará toda riscada. As casas preenchidas por mim aparecerão como verde claro.

Seguindo o mesmo raciocínio, podemos preencher outro número “1” no conjunto do meio à direita (Fig. 6) e daí você pode conferir que nenhuma outra Base terá somente um quadro livre para preenchermos com o número “1”.

Daí passamos para o número “2” e veremos que, com esta técnica, conseguiremos preencher somente mais um quadro (Fig. 7a). Já o número "3" permite que preenchemos mais dois quadros (Fig. 7b e Fig. 7c).
Fig. 7 (a - b - c)
De agora em diante ressaltarei todos os quadros eliminados em uma figura somente, e já preencherei o que for possível. Da mesma forma que aparecerão em laranja os quadros eliminados pelas casas em preenchimento (amarelas).

O número "4" não adiciona nada de preenchimento (Fig. 8a), bem como o número "5" (Fig. 8b). Já o número "6" permite preenchermos mais dois quadros (Fig. 8c).

Fig. 8 (a - b - c)
O número "7", neste ponto do jogo, permite preenchermos todos os quadros análogos (Fig. 9a). Já o número "8" não muda nada (Fig. 9b). O número "9" também permite esgotarmos os quadros idênticos (Fig. 9c).
Fig. 9 (a - b - c)
Recomeçando pelo número "1", poderemos ver que mais quadros estão preenchidos, de forma que poderemos gerar mais algumas soluções, desta vez, completando todos os nove números "1" do jogo (Fig. 10a). Poderemos preencher também mais um número "2" (Fig. 10b) e mais um número "3" (Fig. 10c).
Fig. 10 (a - b - c)
Nada com o "4" (Fig. 11a). Nada com o "5" (Fig. 11b). Mais um "6" (Fig. 11c). Note aqui que começam a rarear as possibilidades de preenchimento.

Fig. 11 (a - b - c)
Com o "7" e o "9" esgotados, só resta o "8" que não vai evoluir facilmente, uma vez que só consta um no conjunto inferior direito. Agora só nos resta recomeçar e, acredite, você conseguirá terminar este Sudoku sem apelar pra qualquer outra técnica de preenchimento (Fig. 12). No máximo, uma contagem.
Fig 12
02. Contagem

É a técnica mais simples... e a mais trabalhosa também. Consiste de escolher uma Base que esteja bem preenchida, faltando poucos quadros em branco, e contar quem falta. Daí, se só faltar um número, é moleza; se faltarem dois ou mais, conferir por cruzamento de estas casas podem ser eliminadas.

Imagine que há uma linha ou coluna com três quadros em branco; dois destes quadros em um conjunto só; o número que você busca está neste conjunto o que elimina o preenchimento destes dois quadros e resumem o preenchimento ao terceiro.

O mesmo pode acontecer com cruzamentos de linhas com colunas. Não passa de uma técnica de cruzamento, mas os quadros estão espalhados ao longo da linha ou coluna. Os conjuntos ajudam bastante a eliminar quadros.

A contagem não passa de um complemento, um fechamento das outras técnicas. Dificilmente você poderá começar por ela. Identifico como uma técnica por ser necessária principalmente no término dos jogos.

03. Bases Lógicas

Nesta técnica podemos deduzir onde não estarão números a partir das simples possibilidades de preenchimento.

Partindo do mesmo jogo de Sudoku (Fig. 13a), antes de começar, podemos preencher quadros com esta técnica. Se pegarmos o número "7" poderemos ver que (Fig. 13b) no primeiro conjunto superior à esquerda, só poderemos preencher o número em questão nas duas casas amarelas. Logo, mesmo sem saber exatamente em qual quadro o número está, podemos ter certeza que ele está naquela determinada linha, eliminando quadros no conjunto do lado (Fig. 13c). Neste caso só restará uma casa possível para o número "7" no conjunto superior do meio.

Fig. 13 (a - b - c)
04. Eliminação 2x2x3

Esta técnica só poderá ser usada em situações específicas e é ligeiramente mais complicada. Neste caso, vou usar um Sudoku fictício, ou melhor, três conjuntos fictícios.

Na Fig. 14a temos uma fase intermediária de preenchimento. Na Figura 14b temos umas casas eliminadas; agora note que, no conjunto 01, temos dois quadros em branco: A e B; no conjunto 02, temos três quadros em branco: C, D e E; e no conjunto 03: F, G, H, I e J.

Observe na Figura 14c que:

- se, no conjunto 01, A ou B podem ser um número específico, digamos "5"; 

- se, no conjunto 02, C, D e E também podem ser "5";

- no conjunto 03, G, H, I e J, NÃO poderiam ser "5" e F seria obrigatoriamente "5".

Fig. 14 (a - b - c)


Isso porque trabalhamos com duas possibilidades: ou A é igual a "5", ou B é igual a "5". Veja:

Se no conjunto 01:    A = 5, 

     No conjunto 02:        C e E ≠ 5, e D = 5;

     No conjunto 03:        G, H, I e J ≠ 5, e F = 5.

Se no conjunto 01:    B = 5,

     No conjunto 02:        D ≠ 5, e C ou E = 5;

     No conjunto 03:        G, H, I e J ≠ 5, e F = 5.

Em ambos os casos a solução aponta para F=5 e por essa razão chamo a técnica de 2x2x3. Nestes casos, sempre acontecem de ter duas linhas ou colunas possíveis e dois conjuntos e no terceiro três linhas ou colunas possíveis. O número que se busca preencher não estará em nenhuma das três colunas.

Então, se você conseguiu ler até aqui, tem tudo que um jogador de Sudoku precisa: paciência!

Por favor, estejam à vontade de levantar questões, de propor variações.

Já me deparei com uns quatro problemas Nível Clássico Difícil, ou Muito Difícil ou Killer que, por falta de paciência ou por falta de experiência, não consegui concluir. Já tenho desenvolvidas outras técnicas mais complexas que, se eu conseguir colocar num papel, publicarei.

Até a próxima!

~*~

quarta-feira, 1 de junho de 2011

MINHA PÃE E MEU(S) PAI(S)


03. Jesus

 “O Calor é causticante. O vento do deserto texano levanta a poeira da rua de terra batida que atravessa aquela pequena e perigosa cidade. Das casas de madeira pouco se nota a tinta envelhecida. A maioria tem varandas cerca de um metro mais altas que a rua, um artifício para aliviar o calor nos dias quentes e a lama nos dias chuvosos.

O som das esporas nos degraus se sobressai ao som do piano que vem de dentro do único saloon da cidade. Ele foi pra lá decidido. Este seria o dia mais importante da sua vida e ele se arriscaria pra conseguir o seu objetivo. Ele lembra o quanto ela lhe implorara pra não enfrentar o xerife e sua corja de auxiliares corruptos.

Ele abre as duas portas vai-vem belamente entalhadas segurando na parte superior com as duas mãos (acompanhamos a narração com os olhos arregalados), ouve o barulho do ambiente aumentar como que acompanhando o ritmo de seu coração. Seus olhos percorrem rapidamente o saloon lotado identificando os capatazes espalhados nas mesas. Eles se voltam pra ele, esperavam sua vinda. O burburinho diminui enquanto o pianista não interrompe o ritmo de can-can que embala as dançarinas belamente sincronizadas com as saias rodadas nas mãos chutando o ar hipnotizando a maioria dos bêbados locais.

Lá está ela! Rosália, a dançarina principal! Linda, ela o distrai por um segundo (prendemos a respiração).

Alguns atiradores levam suas mãos ao coldre e antes que consigam completar seu ato são atingidos pelas balas precisas de Jesus. A música é interrompida enquanto os clientes se jogam no chão junto com os corpos dos bandidos mortos. Ficam cinco em pé, ele e mais quatro. Ele se joga de lado enquanto a porta atrás de onde ele estava em pé meio segundo antes é cravejada de balas. Antes de atingir o chão ele alveja mais dois. Os dois restantes derrubam mesas e se protegem da mira fantástica de seu opositor. Ele aproveita pra recarregar rapidamente suas armas. Um deles, em seu nervosismo, se atira gritando num ataque suicida atirando a esmo somente pra receber um único tiro certeiro no meio da testa. A distração que ele cria permite que o xerife acerte um tiro na coxa esquerda do meu avô (ele nos mostra a cicatriz perfeitamente redonda), mas revida no peito todas as balas que restavam no tambor de seus dois colts.

Ele recarrega novamente suas armas, se levanta calmamente e olha ao redor. O silêncio é completo. Ele só ouve o som de sua própria respiração. Procura por ela no palco no aglomerado de saias que tremem num cantinho. Ela levanta a cabeça e olha pra ele com os olhos cheios de lágrimas, feliz dele ter sobrevivido. Ele conseguiu.

Ela se levanta devagarzinho enquanto ele manca entre as mesas em direção a ela. Ela grita - Não! (gritamos também) Com o canto do olho ele percebe o movimento do barmam levantando uma doze que não teve oportunidade de disparar. A bala trespassou seu olho abrindo um rombo na parte de trás de sua cabeça e pinta o espelho com o sangue do último dos vilões.

Pega Rosália no colo e sai lentamente do saloon, sobe em seu corcel com ela e calvagam à luz do luar pra nunca mais voltar praquela cidade abandonada por Deus.”

Nunca cansamos de escutar a história de como nosso avô salvou nossa avó de um xerife opressor pra formar a bela família na qual nascemos.

Claro que floreei um pouco! Ele não dava tantos detalhes, éramos crianças, mas eu podia ver, fantasiar e enriquecer com os livrinhos de faroeste que ele colecionava e eu lia sem parar. Ele era simplesmente apaixonado por estes livros e conseguiu contagiar cada um de seus cinco filhos: Tio Marcelo, Tio Rui, Marúsia (minha mãe), Tio Roberto e Tio Léo (Leonel, que não era tanto de ler assim).

Meu avô era só carinho. Sorria e os olhos claros sumiam apertadinhos. Cuidava laboriosamente do que sobrara de seus cabelos que iam de uma orelha a outra pela nuca da cabeça brilhosa. Levava-nos regularmente, eu e Alexandre, no barbeiro atrás do bar avião. Usava invariavelmente uma camisa de tecido de botões com um bolso no peito esquerdo onde ele sempre levava uma carteira de cigarro e/ou um envelope de magnésia bisurada (arma de suas brincadeiras de cócegas); uma bermuda até acima dos joelhos e chinelas franciscanas de couro. Lá eu tentava espiar os calendários com mulheres semi-nuas pelos cantos dos olhos enquanto tinha que manter a cabeça quieta.

Outro passeio semanal era a antiga feira da Parangaba, quando era numa pracinha bem arborizada numa rua paralela à Av. José Bastos, perto de onde é hoje. A feira tinha de tudo e naquela época era legal ter passarinhos cantantes em gaiolas de madeira e arame. Lá compramos o pinheiro que adornou anos a fio a frente da casa dos meus avós. Levei-o no meu colo, numa latinha de leite, ia do banco até quase o teto do taxi. Quando pinheiro atinge a cumeeira da casa, o dono da casa morre! ouvi alguém dizer. E assim foi.

O que eu me lembro do meu avô não consegue descrever o homem que ele foi. Toda a bondade, ética, honestidade, generosidade e todos os adjetivos que o dicionário puder conter, chegaram até mim pelo que seus filhos me contaram; principalmente pela minha mãe e pelo livro do Tio Roberto, Meu Pai, Meu Amigo, Meu Irmão. Lembro do seu passinho lento, do chinelo arrastando de noite no corredor da casa, das brincadeiras com o Rex (um pequinês que ele implicava como se fosse gente), dos jogos de gamão na varanda, dele com a vovó, no finalzinho da tarde; dele botando a gente pra dormir na rede, A benção, Vô.

Mamãe conta que eu fiquei doente com pouco mais de um ano de idade. Mandaram-me para Fortaleza pra me consultar: era curuba! Vovó passava o remédio, Vovô abanava com um LP. Depois, em cada férias e após a separação, em 1981, foi quando ele foi também meu pai.

Em 1986 fomos, eu e o Nani, morar em Manaus com o Tio Roberto. Era o começo do ano. Despedi-me de minhas irmãs, despedi-me de minha mãe, de minha avó, e só comecei a chorar no colo do Vovô Jesus. Nunca mais o vi. Ele morreu em março daquele ano doente em decorrência de um malfadado cateterismo, não sem antes perder seu braço e sua sanidade.

Nunca fui supersticioso. Me recuso a acreditar em um mundo em que um pinheiro vença um velho cowboy.

Ah, vovô! Que saudades!

Que saudades!