quinta-feira, 11 de junho de 2020

Registro Oficial de Como Tudo Começou!

Sempre que conhecemos pessoas novas, é normal uma fase da conversa derivar pra quando e como os casais se conheceram, na espera de uma história inédita ou no mínimo super-romântica e, nessas horas, tanto satisfazemos as expectativas com uma história ímpar como temos nossas discordâncias de como exatamente a situação se transcorreu.
Assim, aproveitando o Dia dos Namorados e atendendo a um pedido antigo de Letícia, resolvi lhe surpreender com a minha versão do Registro Oficial de Como Tudo Começou! Notem a responsabilidade que assumo agora, uma vez que costumo ouvir que minhas histórias extraem risos e lágrimas na mesma proporção, o que me deixa muito feliz, mas nesse caso, estou falando de alguém que está comigo ao meu lado o tempo todo, em cada plano, em cada percalço, em cada conquista, e é por ela que escrevo.

Bom, em 1999, nas vésperas do fim do milênio e pra alguns consequentemente do mundo, a minha vida deu uma guinada na forma de um amor. A moça linda por quem me apaixonei caiu (praticamente) na minha frente no dia 04 de dezembro daquele ano.
Gostaria de dizer que foi um amor à primeira vista, mas já havíamos sido apresentados alguns dias antes e ela nem olhou pra mim! Bem, devo dizer que eu não me esforcei pra lhe chamar a atenção ou estabelecer uma conversa, mas em minha defesa devo dizer que ela não me deu abertura alguma.
Vou me explicar: meu amigo e colega de apartamento, Vladimir Lenine (), um poeta volúvel de paixões curtas e avassaladoras, desta vez havia se encantado com uma colega nossa de faculdade, Ana Carolina. Ele tinha bom gosto e a Cacá era e é linda, doce e inteligente. Insistiu em um encontro no Domínio Público, na Praia de Iracema, mas ela já estava agendada com outra menina linda pra ir dançar sem “homens” no Armazém.
“Baxim, cara, a Ana Carolina vai dar uma passada lá no Domínio antes de ir pro Armazém e vai levando uma amiga; cuida dela, ok?” Confesso que não logrei sucesso, ela olhava pros lados como quem queria fugir dali o mais rápido possível enquanto o Conde Vlad, como eu o chamava, não se saía muito melhor com a Cacá. Então, elas se foram, e eu pensei que nunca mais veria a tal menina.
Em 04 de dezembro de 1999 era a festa tradicional da Escola de Arquitetura, o famigerado “Culto a Baco” (fale rápido e entenda a cacofonia) e, como nos anos anteriores, fui pro apartamento de meu amigo Russel pra “decorar” um lençol à guisa de fantasia greco-romana e confeccionar outros adereços; o cara tinha tudo pra abastecer um pequeno teatro.
Estava lá lendo uns quadrinhos tomando coragem pra começar quando chegou uma leva de garotas da faculdade com a mesma intenção que eu. Entre elas estava a Cacá e, por coincidência, trazia consigo a menina-linda-que-nem-olhou-pra-mim. Claro que reconheci na mesma hora, mas não me animei tendo em vista o encontro anterior.
As garotas da faculdade, umas seis, haviam combinado que iriam todas de Cupido e estavam com suas fantasias planejadas para que coincidissem, o que deixou a menina linda meio de fora.
“Lelé, vai ali pedir ajuda do Fabiano que ele se garante!” Nesse momento eu já virava meu lençol pra lá e pra cá completamente sem ideias.
Ela chegou e invadiu o meu espaço pessoal e pegou uma trena pra medir minha cintura! Eu devo ter ruborizado, se é que se notaria isso na minha pele bronzeada de sol. Eu senti seu perfume quando seu cabelo castanho cortado na altura da linha do queixo roçou o meu rosto. Notei que seus olhos eram caramelo e que seu sorriso era encantador, o primeiro que eu via desde que havia conhecido, mas não consegui articular nada compreensível.
Daí em diante tenho pouca lembrança, ela fazendo um jogo de proximidade e simpatia, deixando claro que eu era a presa da história, um contraste gritante ao que eu pouco conhecia da Letícia, cujo nome desta vez não tive dificuldades em guardar. Só sei que saíram duas fantasias daí.
“Onde você mora? Quer uma carona? Eu moro perto...” A festa costumava começar tarde, então iríamos todos pra casa pra banhar e se arrumar e ela me ofereceu esta carona que depois descobri que saía muito do seu caminho.
O fato é que eu estava sendo “cortejado” por uma bela mulher, pois a menina linda era três anos mais velha! Isso resolvia diversos problemas pra minha timidez eterna e eu já sabia “quem” ia beijar nesta noite; antes era uma questão de “se”. Ainda assim, só nos beijamos depois da meia-noite com a ajuda do cupido Cacá.
No fim da festa, depois de uma noite agradável, ela brigou comigo por que demorei muito tempo quando fui ao banheiro ou comprar cerveja (juro que não foram dez minutos!). Nossa primeira noite juntos e tivemos a primeira briga! Fui me despedir e ela voltou o rosto pra mim bicuda de chateada. Ignorei, dei um beijo demorado que foi surpreendentemente retribuído e me fui pensando que no fim de semana seguinte ligava pra ela, caso ela ainda quisesse me ver.
Ela quis! E naquele mesmo dia (levando em consideração que a festa terminou na madrugada do Domingo) ela me ligou.
“Estou no Café da Praia com a Cacá e uns amigos, quer vir pra cá?” Eu queria.
Anastácio, meu bom amigo Taz, estava lá em casa e foi comigo. Chegando lá ela correu pra mim com seu melhor sorriso e pulou no meu pescoço com se nada houvesse acontecido. Passamos a noite namorando e se conhecendo na varanda do apartamento do Valmir, irmão da Cacá, enquanto ela conversava com o Taz na sala. Às quatro horas saímos de lá. Entrei no carro com um Anastácio bêbado de sono e disse:
“Dessa vez eu encontrei alguém especial!” Ele grunhiu e fomos embora.
Nós nos encontramos todos os dias e eu ficava irremediavelmente mais apaixonado a cada dia. Às vezes dormia no seu apartamento que era de sua mãe que morava na Espanha. Em duas semanas eu notei que eu dividia as contas de um apartamento que eu praticamente só guardava algumas coisas. Então fomos morar juntos e isso foi há mais de 20 anos.
Alguns meses depois, em 05 de junho de 2000, casamos no Civil. Dois anos depois, em 02 de fevereiro de 2002, casamos na Igreja com ela chorando, radiantemente linda e ligeiramente grávida. Marina nasceu em 09 de setembro de 2002 e nossa família estava completa. Muita coisa aconteceu nesse tempo todo, mas essa parte da história termina aqui.

Não foi inédito, mas eu nunca vivi nada tão romântico.
Não foi um amor à primeira vista, mas só tenho olhos pra ela.

Lê, meu amor, feliz vigésimo Dia dos Namorados!


quarta-feira, 15 de abril de 2020

Sonho nos tempos do Covid-19


Sonho na madrugada de 14.04.2020

Ontem tive um sonho repleto de pessoas queridas que já se foram.

Estava em um café-livraria e pedi um expresso grande, como sempre peço; a atendente me serviu um pequeno, como sempre faz, e eu acusei o erro. Ela quis me servir dois pequenos e eu neguei. Neste momento, o Tio Roberto (†) fala ao meu lado que poderíamos ter dividido os dois pequenos. Sorri e disse que nem havia pensado nisso; na verdade nem o havia notado ao meu lado.

Então, entra uma comitiva da família Silveira, com todos os tios e tias, Tia Cleidinha mais perto de mim, Dadate, Tia Vânia, noto o Tio Jeovani (†) que me vê e sorri, Rita Helena trazendo D. Valda (†) pelo braço naquele passinho arrastado.

Vou ao seu encontro quando vejo o Vovô Jesus (†) ao meu lado! Me jogo em seu pescoço enquanto emocionado chamo Vovô, Vovô, sinto seu cheiro, um cheiro que nem lembrava saber, e a aspereza de sua barba de fim da tarde. Ele aturdido não me reconhece e não me devolveu o abraço de pronto, então, como se dando conta, diz Meu filho e fecha seus braços em torno de mim!

E eu acordo entre um soluço e outro.

No primeiro momento, a leveza e emoção que ficam impressas pelo sonho me levam a crer que recebi uma mensagem, de que velam por mim, que tudo ficará bem.

Já uma análise mais racional, um dia depois do sonho, creio que a verdade seja menos espiritual e mais crua: este sonho fala mais do meu sentimento de desamparo, da falta que fazem estas figuras na minha vida, de todas elas, cada uma em um momento, todas durante o tempo todo.

Espero que estejam por aqui.



Papai


Terça-feira, 29 de março de 2016. – Publicado originalmente no Facebook

Como em todo aniversário, fico meio macambúzio. Nessas horas gosto de escrever. Para os que tem mais coragem de ler, uma minicrônica de aniversário.

Felicitações transcurso natalício, Papai

Aqui pensando sobre o que as pessoas dizem no seu aniversário, que mensagens lhes passam, os clichês, as frases feitas, as felicidades, saúdes, sucessos etc., noto que sou péssimo disso. Não apenas das mensagens de aniversário genéricas (essa palavra veio pra ficar), mas de qualquer tipo, natalinas, vestibulinas, pascoalinas (essas eu inventei), enfim, só sai algo original quando eu tiro onda do indivíduo.

Aí me lembrei do meu pai e do seu indefectível telegrama:

– Felicitações transcurso natalício, Papai.

Numa era pré-internet, pós-separação, esta mensagem foi um presente doloroso enviado de São Luís em cada aniversário meu e de meus irmãos. Se totalmente obscura nos meus sete anos recém completos, para a mais nova de três anos... não consigo imaginar mensagem mais impessoal. Como mandar um telegrama deste para crianças? Depois de duas vezes, podiam vir sem assinatura e poupar algumas letras (para os mais novos, telegramas eram cobrados por caracteres).

Como bons cearenses, da dor fizemos piada e o telegrama virou chacota. Às vezes ainda usamos desta expressão nos nossos aniversários.

Tive que crescer e reencontrar meu pai, me interessar em conhecer aquele estranho que via uma ou duas vezes ao ano (ou nem isso), de tentar fazê-lo conhecer a mim, de ver o homem que me tornei distante dele, para que eu entendesse que este telegrama era ele, a forma, o texto, o pragmatismo, a postura, a retidão, a distância... tudo era o meu pai.

Hoje, no meu primeiro aniversário sem a menor possibilidade de receber este telegrama outra vez, sinto falta, não da mensagem, mas da assinatura.

E como bom filho, da piada faço dor.

–  Felicitações Transcurso Natalício

~*~

Fúcsia!


– Ahhhhhdalbertoooooo!  O grito transformado em meu nome ecoa em todos os cômodos do apartamento.

– Que foi meu amor? Chego esbaforido mais do susto que da carreira de cinco passos. Uma aranha? Uma barata?

– Não! Aqui, ó! Diz ela com uma cara de choro apontando pra própria região púbica.

– Se tacou na quina da pia? Se cortou? Continuo tentando descobrir a razão do grito, feliz por não ser nem a aranha nem a barata.

– Um pêlo! As lágrimas já surgindo.

– Bom! Geralmente eles nascem nesta região na época da adolescência...

– Não! Um branquinho, aqui, ó!

– Ahn, sei! Esta é outra coisa que aparece com o tempo. Contemporizo. Destes eu ainda não tive, mas veja, minha cabeça já tá grisalha e você tem alguns cabelos brancos nas têmporas.

– Tenho sim, mas são poucos e eu arranco!

– Pois arranque. Mulheres fazem isso com naturalidade! Eu mesmo acho uma tortura incomparável! Parece até com uma tirinha antiga do Angeli, a Rêbordosa pendurada de pernas abertas e alguém arrancando seus pentelhinhos com pinça um por um.

– Não é isso! É que é só o começo! Depois desse vão aparecer vários!

– Meu amor, ligue não. A Minha barba tá ficando branquinha e já achei até uns branquinhos até nas minhas narinas.

– Mas você é homem! Homem não liga pra isso! Mulheres sempre pintam os cabelos quando eles começam a esbranquiçar!

– Pronto! Pois pinte!

– Pintar?

– Sim! De fúcsia! Eu nunca vi um pipiu fúcsia!

– Você tá me gozando!

– Não, sério! Aí eu tiro uma foto e coloco na internet com uma chamada assim: o Pipiu Fúcsia! Milhões de acessos! Vendo uns banners, ficamos ricos!

– Sai daquiiiii!

~*~