Assim, aproveitando o Dia dos
Namorados e atendendo a um pedido antigo de Letícia, resolvi lhe surpreender com
a minha versão do Registro Oficial de Como Tudo Começou! Notem a
responsabilidade que assumo agora, uma vez que costumo ouvir que minhas
histórias extraem risos e lágrimas na mesma proporção, o que me deixa muito
feliz, mas nesse caso, estou falando de alguém que está comigo ao meu lado o
tempo todo, em cada plano, em cada percalço, em cada conquista, e é por ela que
escrevo.
Bom, em 1999, nas vésperas do fim
do milênio e pra alguns consequentemente do mundo, a minha vida deu uma guinada
na forma de um amor. A moça linda por quem me apaixonei caiu (praticamente) na
minha frente no dia 04 de dezembro daquele ano.
Gostaria de dizer que foi um amor
à primeira vista, mas já havíamos sido apresentados alguns dias antes e ela nem
olhou pra mim! Bem, devo dizer que eu não me esforcei pra lhe chamar a atenção
ou estabelecer uma conversa, mas em minha defesa devo dizer que ela não me deu
abertura alguma.
Vou me explicar: meu amigo e
colega de apartamento, Vladimir Lenine (ⴕ), um poeta volúvel de paixões curtas
e avassaladoras, desta vez havia se encantado com uma colega nossa de
faculdade, Ana Carolina. Ele tinha bom gosto e a Cacá era e é linda, doce e
inteligente. Insistiu em um encontro no Domínio Público, na Praia de Iracema,
mas ela já estava agendada com outra menina linda pra ir dançar sem “homens” no
Armazém.
“Baxim, cara, a Ana Carolina vai
dar uma passada lá no Domínio antes de ir pro Armazém e vai levando uma amiga; cuida
dela, ok?” Confesso que não logrei sucesso, ela olhava pros lados como quem
queria fugir dali o mais rápido possível enquanto o Conde Vlad, como eu o
chamava, não se saía muito melhor com a Cacá. Então, elas se foram, e eu pensei
que nunca mais veria a tal menina.
Em 04 de dezembro de 1999 era a
festa tradicional da Escola de Arquitetura, o famigerado “Culto a Baco” (fale
rápido e entenda a cacofonia) e, como nos anos anteriores, fui pro apartamento
de meu amigo Russel pra “decorar” um lençol à guisa de fantasia greco-romana e
confeccionar outros adereços; o cara tinha tudo pra abastecer um pequeno teatro.
Estava lá lendo uns quadrinhos
tomando coragem pra começar quando chegou uma leva de garotas da faculdade com
a mesma intenção que eu. Entre elas estava a Cacá e, por coincidência, trazia
consigo a menina-linda-que-nem-olhou-pra-mim. Claro que reconheci na mesma
hora, mas não me animei tendo em vista o encontro anterior.
As garotas da faculdade, umas seis,
haviam combinado que iriam todas de Cupido e estavam com suas fantasias planejadas
para que coincidissem, o que deixou a menina linda meio de fora.
“Lelé, vai ali pedir ajuda do
Fabiano que ele se garante!” Nesse momento eu já virava meu lençol pra lá e pra
cá completamente sem ideias.
Ela chegou e invadiu o meu espaço
pessoal e pegou uma trena pra medir minha cintura! Eu devo ter ruborizado, se é
que se notaria isso na minha pele bronzeada de sol. Eu senti seu perfume quando
seu cabelo castanho cortado na altura da linha do queixo roçou o meu rosto.
Notei que seus olhos eram caramelo e que seu sorriso era encantador, o primeiro
que eu via desde que havia conhecido, mas não consegui articular nada compreensível.
Daí em diante tenho pouca
lembrança, ela fazendo um jogo de proximidade e simpatia, deixando claro que eu
era a presa da história, um contraste gritante ao que eu pouco conhecia da Letícia, cujo
nome desta vez não tive dificuldades em guardar. Só sei que saíram duas fantasias
daí.
“Onde você mora? Quer uma carona?
Eu moro perto...” A festa costumava começar tarde, então iríamos todos pra casa
pra banhar e se arrumar e ela me ofereceu esta carona que depois descobri que
saía muito do seu caminho.
O fato é que eu estava sendo “cortejado”
por uma bela mulher, pois a menina linda era três anos mais velha! Isso
resolvia diversos problemas pra minha timidez eterna e eu já sabia “quem” ia
beijar nesta noite; antes era uma questão de “se”. Ainda assim, só nos beijamos depois da meia-noite com a ajuda do cupido Cacá.
No fim da festa, depois de uma
noite agradável, ela brigou comigo por que demorei muito tempo
quando fui ao banheiro ou comprar cerveja (juro que não foram dez minutos!). Nossa primeira noite juntos e
tivemos a primeira briga! Fui me despedir e ela voltou o
rosto pra mim bicuda de chateada. Ignorei, dei um beijo demorado que foi surpreendentemente
retribuído e me fui pensando que no fim de semana seguinte ligava pra ela, caso
ela ainda quisesse me ver.
Ela quis! E naquele mesmo dia
(levando em consideração que a festa terminou na madrugada do Domingo) ela me
ligou.
“Estou no Café da Praia com a
Cacá e uns amigos, quer vir pra cá?” Eu queria.
Anastácio, meu bom amigo Taz,
estava lá em casa e foi comigo. Chegando lá ela correu pra mim com seu melhor
sorriso e pulou no meu pescoço com se nada houvesse acontecido. Passamos a
noite namorando e se conhecendo na varanda do apartamento do Valmir, irmão da
Cacá, enquanto ela conversava com o Taz na sala. Às quatro horas saímos de lá.
Entrei no carro com um Anastácio bêbado de sono e disse:
“Dessa vez eu encontrei alguém especial!”
Ele grunhiu e fomos embora.
Nós nos encontramos todos os
dias e eu ficava irremediavelmente mais apaixonado a cada dia. Às vezes dormia no seu apartamento que era de sua mãe que morava na
Espanha. Em duas semanas eu notei que eu dividia as contas de um apartamento
que eu praticamente só guardava algumas coisas. Então fomos morar juntos e isso
foi há mais de 20 anos.
Alguns meses depois, em 05 de junho
de 2000, casamos no Civil. Dois anos depois, em 02 de fevereiro de 2002,
casamos na Igreja com ela chorando, radiantemente linda e ligeiramente grávida. Marina nasceu em 09 de setembro
de 2002 e nossa família estava completa. Muita coisa aconteceu nesse tempo
todo, mas essa parte da história termina aqui.
Não foi inédito, mas eu
nunca vivi nada tão romântico.
Não foi um amor à primeira
vista, mas só tenho olhos pra ela.
Lê, meu amor, feliz vigésimo Dia
dos Namorados!