quarta-feira, 15 de abril de 2020

Papai


Terça-feira, 29 de março de 2016. – Publicado originalmente no Facebook

Como em todo aniversário, fico meio macambúzio. Nessas horas gosto de escrever. Para os que tem mais coragem de ler, uma minicrônica de aniversário.

Felicitações transcurso natalício, Papai

Aqui pensando sobre o que as pessoas dizem no seu aniversário, que mensagens lhes passam, os clichês, as frases feitas, as felicidades, saúdes, sucessos etc., noto que sou péssimo disso. Não apenas das mensagens de aniversário genéricas (essa palavra veio pra ficar), mas de qualquer tipo, natalinas, vestibulinas, pascoalinas (essas eu inventei), enfim, só sai algo original quando eu tiro onda do indivíduo.

Aí me lembrei do meu pai e do seu indefectível telegrama:

– Felicitações transcurso natalício, Papai.

Numa era pré-internet, pós-separação, esta mensagem foi um presente doloroso enviado de São Luís em cada aniversário meu e de meus irmãos. Se totalmente obscura nos meus sete anos recém completos, para a mais nova de três anos... não consigo imaginar mensagem mais impessoal. Como mandar um telegrama deste para crianças? Depois de duas vezes, podiam vir sem assinatura e poupar algumas letras (para os mais novos, telegramas eram cobrados por caracteres).

Como bons cearenses, da dor fizemos piada e o telegrama virou chacota. Às vezes ainda usamos desta expressão nos nossos aniversários.

Tive que crescer e reencontrar meu pai, me interessar em conhecer aquele estranho que via uma ou duas vezes ao ano (ou nem isso), de tentar fazê-lo conhecer a mim, de ver o homem que me tornei distante dele, para que eu entendesse que este telegrama era ele, a forma, o texto, o pragmatismo, a postura, a retidão, a distância... tudo era o meu pai.

Hoje, no meu primeiro aniversário sem a menor possibilidade de receber este telegrama outra vez, sinto falta, não da mensagem, mas da assinatura.

E como bom filho, da piada faço dor.

–  Felicitações Transcurso Natalício

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