quarta-feira, 20 de julho de 2011

O FUSCA


– E aí, Zé! Tem fogo?

Sem nem responder, ele estica a caixa de Argos com os olhos semicerrados por causa da fumaça do Derby no canto da boca. Recebe o fósforo de volta e me pergunta:

– Já viu meu fusca novo?

O Zé era uma figura! Era, não por ter morrido, mas porque tem anos que não o vejo! Mais pra branco, barba sempre por fazer e cabelos cacheados, tinha uma dessas vozes que ribombam que você nem sabe como saiu daquelas costelas magrinhas. Era o zelador da clínica do lado do escritório de arquitetura em que eu trabalhava na Tibúrcio, e lá morava com mulher e dois filhos tão lindos que ele não cansava de dizer: – A muié diz que são meu... eu vô criano!

– O branquinho ali? Massa cara! – estranhei que ele pudesse comprar o carro.

 “É, má, foi o mininu! – já foi ele começando a explicar, como que respondendo a confusão no meu olhar. Rapaz, eu recebi meu primeiro cartão de crédito, duzento e cinqüenta conto! Sácomé pobre, disse logo:

– Muié, pega os mininu que nóis vamo fazê uma fêra!

Fumo a pé que é pertim daqui, aquele Jumbo (já era Pão de Açúcar há uns 15 anos) ali do sinal (da Des. Moreira com Anto. Sales). Chegano lá foi um prá cada lado, a muié pra direita, eu pra esquerda e os mininu correnu como uns doido. Num deu dez minuto só ouvi o papôco e o chêro de cachaça no ar!

Na mesma hora eu pensei: – Foi meus minino!

Nem precisei procurar e lá vem o segurança trazenu o mininu pelo braço com se fosse um mirim.
– Esse menino é seu? – o hômi perguntou como se ele tivesse mentinu.

– É meu mesmo, seu moço! – acho que ele acreditô só pra ter alguém pra culpá. Ele começou a contar que o mininu quebrô uma garrafa de uísque daquelas gigante que ficava no chão num negócio de ferro.

– O senhor vai ter que pagar!

– Eu nân, meu amigo! Eu num bêbo, a muié num bebe, os mininu num bebe, e eu num vô pagá nada.
– Então eu vou chamar o gerente!

– Pode chamar até o Papa! – eu mais inchado que baiacu; o uísque era mais caro que a minha fêra todinha.

Aí lá vem o gerente, de terno e gravata, cabelim no gel!

– Meu senhor, o seu filho quebrou uma garrafa de whiskey caríssima! O senhor é responsável por ele! O senhor vai ter de pagar!

–  Hômi, Seu Gerente, eu num bêbo, a muié num bebe, os mininu num bebe, e eu num vô pagá nada.
– Meu senhor, ou o senhor paga, ou a gente vai resolver na delegacia!

– E eu tenho essas opção tudinha? Então vâmu pra delegacia!

E lá fômu eu, a muié, os dois mininu, o segurança e o gerente.

– Seu Zé, o filho não é Seu? – começou o Delegado.

– A muié diz que é...

– Ele não quebrou o whiskey?

– Seu doto! Eu num bêbo, a muié num bebe, os mininu num bebe, e eu num vô pagá nada.

– Então não tem jeito, eu vou ter que fichar o senhor!

– Intão eu quero o meu a-di-vo-ga-do!

– E o senhor tem advogado? – com a maior cara de surpresa e um sorrisim de canto de boca.

Eu liguei pro advogado da clínica, chapa meu, já tinha me dito qui’eu podia chamar se precisasse. Tava era divinhanu! Contei a marmota todinha pra ele e ele disse que ia era processá os fi-du’a-égua! Eu disse pra ele: – Hômi, o que tu tirá deles nóis racha mei-a-mei!

Ele chegou lá já chei de moral! Disse que todo mercado, supermercado, banca de revista, o escambau, tem de deixá as coisa de adulto no mínimu a um metro do chão; que o gerente tinha levado criança e muié pruma delegacia, quando só precisava levá eu; que isso e aquilo; blá-blá-blá, bli-bli-bli, ... e processô o supermercado!”

– Oí o fusca! É do mininu!

~*~

8 comentários:

  1. Ah, se eu soubesse disso quando você era pequeno, tinha deixado vc. quebrar uma garrafinha do supermercado.kaaka Muito legal a historinha e melhor ainda o final feliz.
    Beijos para vcs.

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  2. fabiano eu adorei kakakaakakaa, vc é fantástico

    ou advogado bommmmmmmmmmm!!! me lembrei uma viagem de 11 horas que ia fazer de avião e pedi prioridade por motivos de saúde, pois ao chegar , dou de cara com uma CHINESA levando uma criança de colo rsrs P----! a mulher não falava uma palavra em lingua alguma rsrs só balançava a cabeça em sinal de nagatividade e sorria, eu , p--- de raiva com a TAM (duas prioritárias juntas)passei para a classe executiva e sentei com cara de rico displicente rsrs me chega uma lindinha!!! e me pergunta: Quem mandou a senhora passar para cá?(constrangimento) eu apontei para a chinesa , na clase economica, já com o menino no peito e disse ""ela""(dedo duro) tirei meu prontuário da uti da unimed, quase 2KG de papel e disse ,bem alto(seriam testemunhas) ...entregue ao Comandante e ele resolve depois com meu Advogado taí o cartãozinho dele ""daqui ninguém me tira"O comandante chega e me diz."" vejo que a senhora é cliente fidelidade vermelha(EU SOU AZUL) portanto uma cliente especial e vai para a primeira classe (conhecida como chapa branca)""AQUI NA EXECUTIVA VAI MUITO LOTADO"" na verdade ele ficara apavorado com meu prontuário rsrs de vez em quando uma lindinha! vinha saber se eu estava viva e perguntava "tá na hora de andar , dona ana"?" p----!!! o homem tinha lido tudooooo , leu até o atestado que me autorizava viajar ,desde que eu andasse a cada duas horas. Pobre é mesmo sem sorte, mesmo promovida ao direito de uma cama confortável, AO LADO DE FIGURAS ILUSTRES DO GOVERNO RSRSRSRSRS passei a noite andando com uma babá. O Comandante tinha um Advogado melhor dq o meu.
    só sei que foi assim....
    ANINHA

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  3. Ótima história! Tu podias formatar o texto para que eu publique aqui nos "Cronistas Crônicos".

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  5. Aninha, de qualquer forma, guardei a postagem. Bjs.

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  6. a semantica se foi da minha mente. Isso é muito pouco para tanta estrela que me resta no céu... Essa entrevista em frances com a Ex Reitora Dra Professora da USP mostra que nos os nordestinos somos SIM!!! arretados e mesmos abestalhada fiz a madame de besta.
    só sei que foi assim.
    ANINA

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  7. curti muito esse post em especial!
    kkkkkkk
    muito bem contada a história!
    boa mesmo!
    abraço!
    (Luciano-Chico Becker)

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  8. Essa crônica se carateriza por ser crítica?

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