domingo, 1 de maio de 2011

BRINCADEIRINHA DE SUSTO


06. Minha vez

Não posso precisar quando e onde eu comecei a gostar deste esporte. Há uma satisfação meio sádica em brincar de dar sustos. Claro que, quando se gosta de dar sustos como eu gosto, tem-se sempre que esperar o troco, que raramente vai ser anunciado. Muitas vezes ninguém precisa agir para que tu leves um susto.

Um caso clássico de levar um susto sozinho aconteceu com Letícia. Estávamos nos arrumando para o Reveillon no Gurguri, o sítio do meu pai, na serra que subimos por Redenção. Toda vez que vamos lá temos muito cuidado pra deixar as malas sempre fechadas enquanto não usamos pra não entrar nenhum inseto, gia ou coisa pior. O condicionamento é, portanto, natural, e foi ele quem fez Letícia mandar Marina me chamar correndo no quarto. Pai, a mamãe tá com um problemão! Ô diabos! Corri e, chegando lá, Letícia estava segurando a lateral das calças novas com tanta força e pavor que eu também me assustei. Tem um bicho aqui! Um bicho mordedor! Como é que eu ia saber o que era se ela teimava em não soltar? Baixei as calças dela enquanto ela segurava o Bicho Mordedor. Aí ela soltou e eu pude ver uma daquelas etiquetas magnéticas antirroubo costurada na parte interna das calças. Depois desta, toda etiqueta que incomoda nós dizemos que vamos cortar o Bicho Mordedor!

Um dia eu cheguei em casa com meu irmão no começo da noite e estava faltando luz na região. Morávamos numa casa assombrada na Vila Betânia. O leitor pode até pensar que eu estou brincando. Assombrada!? Tu não estavas lá, quem conhecia a casa tinha calafrios constantes, principalmente no quartinho dos fundos. Bom, se a casa era aterrorizadora até de dia, imagine na mais completa escuridão. Acendemos uma vela, armamos o tabuleiro de xadrez, que não dependia de energia pra gente se divertir e eu fui trocar de roupa. Não levei velas comigo. A luz bruxuleante que vinha da sala seria o suficiente. Tirei os sapatos e empurrei abrindo a porta do quarto com a mão pra tirar as calças. Elas iam nos joelhos e a porta começa a fechar quando eu tiro a mão. Hum. Empurro mais forte e solto quando começo a tirar o primeiro pé. A porta fecha com toda a força em cima de mim. Ahhhhhhhhh! Pulo num pé só pra fora do quarto e BLAM! A porta fecha num estrondo. Baxim! O que houve! Eu abro a porta que resiste um pouco e encontro o vulto da tábua de engomar de madeira no chão. Aí eu explico pra ele como a tábua, na hora que eu empurrei a porta, saiu de seu ponto de equilíbrio tendo empurrado também os seus pés, e uma tábua de engomar (destas antigas de madeira SUPERPESADA que guardamos dobradas em pé) me deu um dos maiores sustos que levei na minha vida. Aí foi a vez do Alexandre se acabar de rir de mim, e eu também.

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