domingo, 1 de maio de 2011

BRINCADEIRINHA DE SUSTO


BUUUU!

Minha filha adora fazer Buuuu! Ela adora dar sustos. Culpa minha. É um mal de família. Tá no sangue.

Este post é um conjunto de situações de pregar sustos em que eu e minha família participamos, ativa ou passivamente. Sei que entramos aí num limiar entre o certo e o errado mas concordo com quem disser que a questão é de gosto no mínimo duvidoso. Uma coisa também é certa: é divertido, ora bolas! Talvez nem tanto pra quem leva o susto, mas com bom humor e com cuidado, pode-se divertir também os assustados.

01. A Possuída

Dona Marúsia, minha inspiradora mãe, me conta com orgulho os sustos que pregou no passado. Um dos mais memoráveis ela executou dentro de um cinema em São Luís. Não tinha ambiente mais propício: O Exorcista! Naquela época não havia filme mais comentado e o tema rende grandes bilheterias até hoje: a possessão demoníaca. O fato é que ela entrou no cinema para ver o filme pela segunda vez. Não vou discutir o que leva alguém a ver um filme destes duas vezes no cinema. Mas como eu disse, era um blockbuster e virou até referência; e o cinema era superbarato, também. Ela entrou e começou a procurar o lugar quando avistou a vítima: uma amiga já sentadinha de pipoquinha na mão; malevolamente sentou-se imediatamente atrás da coitada, o plano já em curso antes mesmo de decidido. Pacientemente esperou o filme começar, a amiga se envolver pelo clima, levar uns sustos por conta própria e lá estava a oportunidade: ia passar uma cena destas que o diretor joga a possuída na cara da platéia e o cara dos efeitos sonoros bate os dez dedos ao mesmo tempo no teclado do piano com o volume no máximo! Você já colava no teto se estivesse vendo A Casa dos Espíritos ou Um Convidado Bem Trapalhão! Mamãe viu a cena começar, abaixou-se, esperou a deixa e, no exato momento, agarrou o tornozelo da cidadã! AHHHHHHHUAHHHHH! Acho que até o homem do projetor teve uma parada cardíaca. Ligaram as luzes, veio o servente, o lanterninha, o cabôco do tabuleiro de bombom e cigarro, pra ver uma mulher em pé na poltrona completamente apavorada e soluçante olhando estupefata pra minha mãe também soluçante, de tanto rir, revirando na poltrona da fila anterior. No que deu? Minha mãe não contou esta parte da história. Nem sei se a muié já voltou a falar com ela, mas quem é amigo(a) da minha mãe sabe que pode esperar por estas.

Outra. Mais levinha. Ela e uma amiga sozinhas no apartamento que morávamos na Av. Aguanambi (no mesmo bloco onde mora o Dráulio hoje; já-já eu conto a dele). Era já de noitinha, aquele papo gostoso entre amigas que vara a madrugada, conversa vai, conversa vem, rola aquelas histórias arrepiantes de alma. Mamãe tem um repertório destes que ocupa três noites e só pára pra beber água. A narrativa é envolvente. A entonação, os detalhes, a vítima Ai, Marúsia! Eu fico toda arrepiada só de pensar! Num gosto destas histórias, não! Pronto. Como todo bom susto, há uma preparação e este estava plenamente preparado. Vão dormir. Mamãe levanta pé-ante-pé, vai no quarto onde fica o três-em-um, coloca meu primeiro LP, Thriller do Michael Jackson, quase sem volume na música de mesmo nome e, lá no fim, na hora que Vincent Price vai dar aquela risada diabólica, ela aumenta até o último tom. Rárárárárárárá, Rárárarárá, Rá-rá-rá, rá-rá, rá. A mulher saiu correndo do quarto em que estava nos primeiros momentos do sono completamente ensandecido, gritando pela minha mãe até achar ela vermelha de rir no escuro do quarto de som. Essa é minha mãe.

4 comentários:

  1. Quae morro de chorar, de tanto rir. Muito bom!

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  2. Que memória, filho!!!!
    Quando você quiser, eu conto outras. Está excelente.

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  3. A moça do cinema se chama Sílvia e é minha grande amiga até hoje.
    Não havia motivo para raiva, foi só um sustinho de nada.

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  4. Não vou corrigir os textos, a não ser que um dia eu publique, mas adoraria que vocês postassem comentário como esse, mãe, que complementam, ratificam ou retificam a história. Se a senhora quiser contar mais algumas, as portas estão abertas. Adoraria ter aqui aquele conto de Natal que a senhora escreveu.

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